Gordos não tem vez em assentos de aeronave tampouco em
transportes terrestres; gordos não tem vez nos empregos; nas novelas e filmes
(a não ser nas comédias onde são ridicularizados com a finalidade do “riso”);
são vistos pela maioria da população, em especial a população chamada “normal”
(que vai a academia ou que “vive no regime”) como sendo pessoas sem
autocontrole, desorganizadas e até “grotescas”.
Recentemente
uma atriz de novelas aqui do Brasil, de renome nacional, quiçá internacional,
teve o despautério de dizer que tinha repulsa a mulheres gordas (veja aqui R7,sobre Betty Faria ), todavia, mais tarde foi as redes sociais tentar explicar o
que teria dito: “Questão de gosto: roupa
de oncinha, unhas dos pés pintadas de vermelho... não gosto. Mas não é ofensa,
por favor. Questão de gosto, tá?” (Leia mais aqui ExtraGlobo).
De fato, a vida
das pessoas acima do peso não é nada fácil!
Não é fácil para eles, que podem sofrer com enfermidades que afetam mais
quem está obeso; além disso afeta também a capacidade de locomoção, a
autoestima e causa fadiga impossibilitando até a realização de algumas atividades; no entanto,
posso garantir que também não é muito fácil para quem tem que viajar, por
exemplo, ao lado de alguém que esteja gordo (IMC – Índice de Massa Corporal acima
de 31).
Geralmente quem
viaja, mesmo que na classe econômica, quer um mínimo de conforto. Viajar ao lado de alguém que esteja obeso “acaba”
com qualquer viagem. Imagine acordar
sufocado por uma pessoa “deburçada” sobre você e que nunca “viu mais gorda”,
digo, nunca viu pela frente?! Mesmo que não seja proposital isso é quase certo
que irá acontecer se a viagem for longa e a pessoa ao lado for obesa – até os (as) magros (as), às vezes, deburçam para a cadeira vizinha e acaba incomodando.
Ainda que não
esteja dormindo é difícil se movimentar
num banco de avião na classe econômica, imagime se tiver compartilhando espaço
com algum gordinho. O certo é que se
você pagou pelo assento, mesmo que ele seja largo, espaçoso, você o deseja só
para si! Essa é a real.
Algumas
empresas internacionais solicitam de seus passageiros gordinhos que comprem uma
passagem a mais; é o caso da Air France e
Southwest Airlines, por exemplo, mesmo pagando, mais tarde, um reembolso
parcial sobre elas. A United Air Lines
solicita a passageiros que não caibam confortavelmente em uma só poltrona que
comprem uma segunda passagem.
Já outras optam por cobrar por sobrepeso (quanto mais pesado(a), mais
caro será o bilhete – é o caso da Samoa Air, da Oceania).
Apesar dos EUA ter cerca de dois terços dos adultos acima do peso e/ou obesos, uma pesquisa feita
em 2010, para um site de viagens chamado Skyscanner, 76% dos viajantes disseram concordar que as
companhias aéreas deveriam sim,cobrar a mais de passageiros que precisem de um
assento adicional. Isso dará mais conforto a eles e seus “vizinhos” de
poltrona.
Uma pesquisa
dessas por aqui chegaria perto dos 100% se os entrevistados fossem honestos com
as respostas. Se lá que tem 2/3 de adultos obesos a votação foi expressiva,
imagine aqui.
Num artigo
anterior expus as distintas formas de preconceito e fiz um questionamento. “Preconceito, é possível não ter”?
Existem tantas
formas que seria hipocrisia de nossa parte dizer que nunca fomos preconceituosos (
Leia aqui o artigo em questão ). Mesmo
que você não seja “gordofóbico” se sentirá incomodado tendo que, praticamente,
partilhar o seu assento num ônibus de viagem ou num vôo. O que não te colocará no mesmo patamar de
alguém que, sendo empresário, possua uma vaga e não deseje, não queira, um
funcionário obeso; ou que tenha uma colega de faculdade acima do peso e não
queira sua amizade pelo fato dele ser obeso.
Uma coisa é ter
que ficar no “aperto” durante uma viagem e calar-se, fingir-se conformado e
generoso em demasia, outra bem distinta é deixar de dar emprego a alguém, ou
não querer ser amigo por essa pessoa não apresentar padrões considerados ideais,
perfeito para você, em se tratando de aparência (segregando a pessoa).
Mas, para ficar
bem claro um adendo: gordura corporal em excesso é um perigo. "Uns 30% dos obesos podem ter um perfil
metabólico e cardiovascular dentro da normalidade. Mas estudos mostram que
pacientes com IMC (Índice de Massa Corporal, ou peso dividido pela altura ao
quadrado) superior a 30 sempre têm risco aumentado para doenças cardíacas,
vasculares, diabetes e câncer", diz o endocrinologista Lício Veloso,
professor da Unicamp e pesquisador de mecanismos da obesidade.
No Brasil, o SUS gastava R$ 488 milhões anuais com tratamentos contra a obesidade (isso até final de 2012). Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados em agosto do ano citado, 51% dos brasileiros estavam acima do peso (sendo 17% obesos).
Gordofobia existe |
Em 2011, eram
48%. Campanhas por uma alimentação saudável e uma redução de peso são uma
necessidade. O problema é que às vezes elas favorecem o aumento do preconceito.
"Muitas pessoas desenvolvem um
sentimento de rejeição pela obesidade mais pelos aspectos estéticos e
comportamentais do que pelo risco médico", diz Veloso. O que infelizmente é verdade!
Recordando a
atriz que fez um comentário preconceituoso nos meios de comunicação: hoje é difícil
não gostar disso ou daquilo! Praticamente tudo é levado para o lado do
preconceito, todavia expressar-se da forma como ela se expressou chega a ser
nojento. Repulsa se tem desse tipo de pensamento e não de alguém que está acima
do peso!
Gordura
corporal não devia causar repulsa em ninguém, no máximo encarar como uma coisa que não se quer para si; também não deveria ser encarado como algo fora do
comum, que mereça ser “excomungado”, distanciado, isolado.
Ninguém é obeso
porque quer. Quem disser que sim estará
sendo hipócrita da mesma forma que ela foi ao proferir palavras tão “baixas”. Quem em sã consciência gostaria de estar
exposto as doenças que afetam mais quem está acima do peso? Quem em sã consciência gostaria de ter as
coxas e nádegas cobertas por celulite, estrias, gordura localizada, barriga
flácida e enorme? Quem em são consciência queria buscar, incansavelmente, por
roupas, nas lojas (a maioria não tem numeração extra grande) e quando tem, nada
“pega bem”; nada “assenta”, nada “cai bem”!
Gordofobia |
Nunca fui obesa, todavia, pela segunda vez, estou acima do peso e já me sinto incomodada e inconformada. Nada mais me cai bem, sinto-me sem disposição; as bochechas estão ainda maiores do que sempre foram; a barriga cresceu e por mais abdominais que faça e cinta que use a barriga teima em “parecer flácida”. As celulites aumentaram, o braço engrossou de gordura (tudo tem aumentado), exceto a disposição e a autoestima!
Por outro lado
também sei o que é estar, relativamente, magra; magra mesmo nunca fui – só nos
sonhos! Neles eu sempre sou magra como a
Gisele Bundchen. Meus mais doces e
impossíveis sonhos!
Infelizmente, já tive o desconforto de viajar ao lado de uma pessoa, relativamente,
obesa em vôo de curta distância e também numa de ônibus de longa distância. É por essas experiências que decidi escrever
este artigo.
Todos
deveríamos conscientizar à respeito da obesidade. Ela não é fácil para quem convive e/ou sente
no corpo os efeitos, no entanto ninguém é obrigado a perder o conforto em
detrimento de outrem.
A maioria da população não é a “Madre Teresa de Calcutá” – pensamos primeiramente em nós, depois vem os outros, essa é a verdade. Ao compramos uma passagem ou bilhete aéreo nunca imaginamos ter que dividir o pequeno, exíguo espaço existente com outro que se senta ao lado, mas que tem “pedaço” do corpo sobrando para o nosso.
A maioria da população não é a “Madre Teresa de Calcutá” – pensamos primeiramente em nós, depois vem os outros, essa é a verdade. Ao compramos uma passagem ou bilhete aéreo nunca imaginamos ter que dividir o pequeno, exíguo espaço existente com outro que se senta ao lado, mas que tem “pedaço” do corpo sobrando para o nosso.
Assim, espero
não ser tachada de “gordofóbica”, no máximo deveriam me tachar de egoísta, mas
isso é outra conversa, é algo que ainda não foi tipificado. Egoísmo não é crime e “crise de realidade” e
honestidade também não!
Autoria: Elane F. de Souza
(Advogada e Adm deste Blog)
Fontes: Super Interessante; EntretenimentoR7, ExtraGlobo e EconomiaUol
Foto/Créditos: queroperderpesocomsaude
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