10 de junho de 2019

P.A.S - Pessoas Altamente Sensíveis: características

No Brasil a sigla P.A.S se pronuncia como a homófona do substantivo comum paz, que curiosa e coincidentemente é semelhante no sentido, em se tratando de trocadilhos, mas nada tem a ver uma com a outra!

No final do texto explicaremos o porquê do destaque*¹, via repetição desse mesmo destaque.

P.A.S é a uma sigla que foi criada, mais ou menos na década de 1980 (no Séc. passado), para denominar as pessoas que seriam Altamente Sensíveis. A Autora do estudo que descobriu o traço é a Psicóloga Americana Dra. Elaine Aron com colaboração de seu esposo, o Psiquiatra de nome Arthur Aron. 

Após mais de 30 anos de existência, ainda hoje é considerado um descobrimento "recente" e desconhecido até de alguns profissionais da Psicologia.

Elaine Aron só decidiu se aprofundar no conhecimento de si, e de centenas de outros indivíduos porque queria saber se existia outras pessoas como  ela; com as mesmas sensações e incômodos; após se casar com Arthur Aron, Psiquiatra, juntaram conhecimento com uma extensa pesquisa e acabaram concluindo que Elaine não sofria nada - pelo contrário, teria uma traço de personalidade mais aguçado que a maioria dos seres humanos.

Pessoa emoção por pixabay grátis
Segundo ela, em seu livro publicado pela primeira vez em 1996, intitulado The Highly Sensitive Person, traduzido para o espanhol como "El Don de La Sensibilidad", cerca de 15% a 20% da população no mundo são P.A.S (homens e mulheres, na mesma proporção)!

No meu caso, foram 7 meses de estudo intenso procurando uma definição para os sentimentos e sensações misturadas que sempre tive; pelas visitas a 3 Psiquiatras e 2 Psicólogos sem uma resposta válida e eficaz (apesar dessas visitas só começarem aos 46 anos); cansada de tudo, sem diagnóstico, a poucos dias de completar 50 anos, FINALMENTE entendi quem sou - faço parte dos 15% a 20%  P.A.S no planeta!

Por não se tratar de uma doença, Elaine Aron, em seu famoso livro (já citado), criou um Teste com 22 assertivas que devem ser contestadas com SIM ou NÃO. Quando a quantidade de SIM for menor que 14 há uma probabilidade que seja mais sensível que algumas pessoas, mas NÃO que seja Altamente Sensível; no entanto, quando o SIM ultrapassar 15 (das 22) é bem provável que seja uma P.A.S - Pessoa Altamente Sensível.

ATENÇÃO: A Dra. Aron faz questão de frisar que não existe
um Teste Psicológico preciso para determinar que uma pessoa  é P.A.S ou não; mas há 4 (quatro) características que são BASE; sem uma resposta positiva a TODAS elas você não é Altamente Sensível; veja a seguir quais são:


  1. A pessoa dificilmente pode remediar sua tendência a processar toda a informação recebida de uma maneira intensa e profunda. Rumina os temas e geralmente dá muitas voltas.
  2. A pessoa chega a saturar-se e sentir-se superestimulada quando tem que processar muita informação (sensorial ou emocional) de uma vez só, por exemplo: estando em um concorrido centro comercial na hora do rush;
  3. A pessoa vive a vida com muita emotividade; se emociona com facilidade ante a uma interminável quantidade de coisas que lhe tocam a alma por sua beleza e pureza, mas da mesma maneira por sua tristeza ou quando sente uma profunda impotência. Isso pode dar lugar a uma intensa empatia, uma característica que também forma parte do traço da Alta Sensibilidade.
  4. Em quarto lugar, cabe ressaltar uma elevada sensibilidade, não somente enquanto aos cinco sentidos (visão, olfato, paladar, audição e tato), senão também em se tratando de sutilezas com as mudanças do entorno ou em se tratando do estado emocional das pessoas que tem em frente. 


Por isso, e  por todos os artigos que já li, em Português e Espanhol; por ouvir o audiolivro da Dra. Elaine (3 vezes), e muitos outros discursos e palestras em vídeo, realizados por Psicólogos e Pessoas que se descobriram com esse traço (Artistas de todos os gêneros, Professores, Coaches, Filósofos, Médicos, Voluntários de ONGs, Cuidadores de idosos e crianças, etc) acabei me descobrindo com este traço, só então  tive uma certa Paz!

Durante a juventude, geralmente os que se descobrem P.A.S. usam de uma "couraça" para se encaixar na sociedade; eu mesma utilizei (na pré-adolescência e na Adolescência); especialmente na escola - mas, mesmo assim me comportava estranhamente e sempre me indignava por tudo e por nada. 

Não me concentrava, o excesso de ruídos internos e externos, pensamentos devastadores e angustiantes deixavam-me exausta!

Em casa, muitas vezes me recolhia em meu quarto; quando ainda não tinha um (em um canto qualquer), sem falar com ninguém!

Na infância, o comportamento era de uma criança chata, chorona, mas também travessa. Certa vez até coloquei fogo na "casinha" da roça onde vivíamos - por pouco, eu, com apenas 2 anos, e o restante de minha família, não fomos morar no relento!

Não aceitava o 'colo' de ninguém; era difícil sair do lado de minha mãe! Eu estava sempre ali, grudada, chorando na "barra da saia" dela, sem saber o que queria ou aonde doía! Impossível deixar-me com alguém para fazer algo fora - ainda bem que nossa moradia era no mato (na roça)!

Aos 9 (nove) anos de idade fomos todos os 7 (sete) integrantes da família, já incluído os pais, morar na capital!

Com 10 ou 11 anos ainda fazia xixi na cama, e minhas duas irmãs mais novas não! Com a mesma idade citada chorava para dormir (desta feita, escondida debaixo dos lençóis) e da mesma forma, acordava chorando!

Sempre tinha pesadelos! Durante o dia as núvens do céu pareciam bruxas, caixões, guerras, armagedom ou anjos do apocalipse - tudo afetava meu humor e me entristecia demasiado!

Parece que eu não devia ter nascido! Esse mundo não era para mim e os culpados eram meus pais que me tiveram; mas, em seguida, internamente, entristecia por culpá-los; rapidamente voltava a amá-los e necessitá-los, mais que tudo! 

Desde que me entendo tenho sensibilidade ao calor intenso (provoca algo parecido urticária) e ao frio intenso (manchas roxas); as etiquetas de roupas me dão coceira e alguns tecidos também; à luminosidade intensa do sol ou artificial "me cega" e faz lacrimejar, igualmente o vento frio; os ruídos altos, as músicas tristes (especialmente as tocadas por piano, violino ou românticas demais); tudo me incomoda demasiado!

A morte violenta de conhecidos ou de desconhecidos, presenciadas na TV, sempre foi considerada por mim uma perda particular (o choro dos velórios são absorvidos como se a pessoa morta fosse um filho, pais ou irmãos - choro desconsolada pela tristeza e choro dos outros - não pelo morto, que já não está sofrendo).

Todas as sensações e acontecimentos ao meu redor são levadas muito 'à peito' (como se fossem pessoais): mal trato a um idoso e crianças; mal trato animal, a devastação das florestas, a matança de indígenas, a falta de educação no trânsito, a falta de compaixão de uns para com os outros....; dependendo do que for choro, ou fico indignada e vou para cima da pessoa com uma crítica ferrenha - mas nunca agrido ninguém!

A sensação que sempre tive é que o mundo não está feito para mim! Não que eu seja melhor, nem pior - apenas não me encaixo, não coaduno com barbaridades, com vingança; tampouco guardo rancor! 

A dor alheia é quase como minha (sou 'praticamente uma esponja'), e devido à falta de informação e orientação psicológica, durante anos fiquei à margem da minha dor e da dor dos outros - isso me levou à depressão e ansiedade!
  
Só agora, com 50 anos, descobri quem sou! Mas a jornada foi dura! Para isso passei pela Filosofia e Psicologia; até esqueci da minha própria formação (Direito) para dedicar-me ao auto-conhecimento e do mundo!

Valeu a pena e tem valido - agora busco aprender sempre mais sobre o planeta e os outros seres humanos! Infelizmente nunca saberei 1% do que gostaria; mas, quanto a mim, desvendei - tenho um "dom", diz o teste da Dra. Aron; entretanto, eu ainda não consigo enxergá-lo totalmente como um Dom, felizmente também não vejo como uma maldição.

Bem trabalhado, pode sim ser um Dom. Amar o próximo, ter compaixão e demasiada empatia não pode ser uma coisa ruim; seguramente, quando a depressão e ansiedade se forem, entregar-me-ei à uma boa causa; por enquanto ainda faço o que alguns P.A.S. fazem: recolher-me na penumbra de meu quarto; lá fora há muito ruído; há muita desgraça; muita sirene; muitas agressões; falta de educação; falta de gentileza e quase nada de empatia.

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Aos poucos, seguramente estarei melhor; afinal é um regalo dos Deuses descobrir que tenho algo de muito bom em mim; estava exausta; sentia fraca, sentimental demais - tinha e ainda tenho vergonha de chorar por tudo que se passa no mundo; mas esta sou eu, não tenho muito como trabalhar algo que é de minha personalidade (quiçá é uma herança genética de minha doce mãe)!

Outra coisa boa dessa descoberta é que agora me entendo: apesar da depressão e ansiedade pelas coisas ruins, assim que via, sentia ou presenciava algo bonito ou bom para alguém ou para mim, a felicidade tomava conta e segue tomando conta do meu ser!  

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Sabores, cheiros, a beleza do mar, das montanhas, um bom filme, uma paisagem bela, um cenário ou monumento medieval me encantam, transformam meu dia para melhor, é como se a depressão não existisse! 

No fundo, no fundo os P.A.S só querem PAZ*¹ e amor para ter uma vida mais feliz e fazer os demais também felizes, por isso se enfurecem e se entristecem tanto com as desigualdades sociais e a falta de empatia de grande parte do restante, que é 80% da população!

Todavia, apesar de só desejar a paz, ficamos facilmente  indignados e somos intolerantes com certas atitudes ao nosso redor; sem falar que não nos cai bem as críticas pessoais e a grosseria 'injustificada'!

Dos 80% da população citada acima, ainda há os com Transtornos de Personalidade Antisocial, Narcisistas, Borderline, Psicopatas, bipolares;  os com doenças mentais, os Autistas, os Esquisofrenicos e finalmente os "neutros" (os normais - que na minha opinião de indignada, que naturalmente sou, são os "TÔ NEM AÍ, ENQUANTO NÃO FOR  COMIGO NEM COM OS MEUS")!

O mundo necessitaria de mais P.A.S para ter paz e menos corrupção (20% da população é pouca gente); quiçá, houvesse o dobro do que há e alguns trilhassem o caminho da política - cansada de Narcisistas e Psicopatas no poder!

Por Elane F. Souza (Advogada, autora e administradora deste blog e de outros que são exclusivos de Direito);
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